AS RUPTURAS LATINAS: TEORIAS DECOLONIAIS NAS OBRAS DAS ARTISTAS LATINO-AMERICANAS NA DÉCADA DE 1970
Palavras-chave:
arte latino-americana, arte decolonial, estudos decoloniais, arte feministaResumo
Compreender a história da arte latino-americana vai muito além de dissecar movimentos artísticos que eclodiram no Sul Global. Nas décadas de 50/60 há uma ruptura com o cânone, quando artistas trazem para a temática artística da América Latina o que o crítico Guy Brett chama de "salto radical": a consciência social e política, e o sentimento da precariedade da existência humana (BRETT, 1997). Dentro dessa produção latino-americana, é imprescindível um olhar mais atento para a produção de artistas-mulheres, que colocam em suas produções as questões de gênero mescladas às questões da política conturbada da época. Vê-se, então, um cruzamento das ideias decoloniais de pensadores como Aníbal Quijano e María Lugones com as de artistas que produziram nas décadas de 1960/70, mesmo que de forma embrionária. A análise compreende o recorte das mulheres artistas latino-americanas que produziram durante a década de 1970, com três obras selecionadas: Me gritaron negra (1978), de Victoria Santa Cruz, Brasil Nativo, Brasil Alienígena (1976-77), de Anna Bella Geiger, e Arroz e Feijão (1979), de Anna Maria Maiolino. Aqui, há o cruzamento entre a temática dessas artistas com os questionamentos sobre a colonialidade proposta pelo Grupo Modernidade/Colonialidade, publicados vinte anos depois, e também o paralelo com alguns pensamentos do feminismo decolonial proposto por María Lugones. Nessas obras, as mulheres se colocam como centro, abordando, mesmo que metaforicamente, suas próprias perspectivas de vida sendo parte integrante de um sistema pós-colonial.
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